Realizada na manhã de sábado (13), no auditório do SindiComerciários, a ação de formação promovida pela Coordenação do Movimento Social e Sindical trouxe para Ijuí o professor mestre em economia David Fialkow Sobrinho, que em seu painel procurou traçar um panorama da situação econômica e social e os desafios que a classe trabalhadora tem diante deste cenário.
Inicialmente, Fialkow apresentou um panorama econômico de – simplificadamente - duas realidades, em que de um lado estão os países ricos desenvolvidos, com baixo crescimento econômico, economia financeirizada, lenta e com ondas regressivas trabalhistas e sociais. De outro lado estão os países emergentes com uma economia com maior base na produção que na financeirização e crescendo mais, apesar de, diante da crise internacional do capital, este crescimento encontrar-se agora num menor ritmo. Outro contraste entre as economias emergentes e os países ricos são as conquistas e avanços trabalhistas e sociais em relação aos retrocessos que ocorrem nos países desenvolvidos.
Fialkou citou como exemplo de retrocessos o “zero hour contract”, vigente na Inglaterra, em que o trabalhador tem um contrato de trabalho no qual está a disposição do empregador, sendo chamado ao trabalho por períodos decididos pela empresa, sem remuneração nos períodos em que não está trabalhado e sem poder ter outro contrato de trabalho concomitantemente. “Resumidamente o que acontece é que os países ricos estão perdendo terreno e querem parar com esta perda e estancar crescimento dos outros”, disse.
No Brasil e na América Latina, lutar contra o neoliberalismo e o avanço conservador
Em seguida Fialkow traçou o panorama econômico e político local, sintetizado na dualidade dos governos de Lula e Dilma, que por um lado estancaram o neoliberalismo puro, vigente no país especialmente nos anos 90 e promoveram uma retomada do crescimento com medidas sociais e democráticas, mas que ao mesmo tempo não romperam com a macroeconomia financeira.
Ele sublinha que nos governos de Lula e Dilma houveram inclusive alguns avanços com mudanças estruturais e citou como exemplo o fim do problema de todo século XX nas contas externas do Brasil, que foi o deficit da balança comercial, tendo o Brasil hoje se transformado em credor, com reservas de US$ 370 bilhões.
Citou também os avanços no campo social que promoveram uma mudança significativa promovendo no país uma nova estrutura social, na qual perto de 50 milhões de pessoas saíram das classes D e E e entraram na classe C, ainda que os mais ricos também tenham aumentado seus ganhos. Some-se a isso uma verdadeira revolução na educação com a ampliação de cursos técnicos e vagas universitárias o que resultou na qualificação do trabalhador e a melhora da produtividade. Outra mudança significativa é a superação da lógica de que o bolo precisa crescer para depois ser dividido. Nos períodos de Lula e Dilma o salário e economia cresceram juntos.
A ofensiva conservadora contra mundo do trabalho
Fialkow alertou que há no país uma disputa de projetos que tem tudo a ver com os interesses da classe trabalhadora. Nesta disputa, as elites querem impor perdas aos trabalhadores e ao povo. Como se a causa da crise fossem salários maiores e o aumento do poder aquisitivo do povo. “Eles culpam os salários e o emprego pela crise, mas a crise é do sistema capitalista. O crescimento econômico no mundo é mais lento”, afirma.
É neste contexto que se ameaçam os trabalhadores com projetos como o da terceirização, um retrocesso de 70 anos nas leis trabalhistas, que acaba com a CLT. “Se uma empresa contrata mão de obra de outra empresa e por um valor menor do que gastava com um empregado próprio, é óbvio que na lógica quem está perdendo é o trabalhador, não só imediatamente, ganhando um salário menor, mas também no longo prazo, perdendo direitos a muito conquistados como férias, descanso remunerado e aposentadoria, por exemplo”.
Filakow alertou ainda para o contexto político. “O executivo é apenas um dos poderes. E estamos numa situação em que elegemos um Congresso Nacional com maioria de deputados conservadores e que é subserviente ao poder econômico e ao capital financeiro”. Ele acrescentou ainda que existem outros poderes aliados do conservadorismo e que jogam papel importante no cenário político como a grande mídia hegemônica.
Os trabalhadores diante de uma batalha histórica
Após uma série de intervenções dos presentes que ressaltaram algumas dificuldades enfrentadas pelo movimento sindical, David Fialkow Sobrinho foi enfático ao dizer que o movimento sindical deve ter maturidade sobre como avançar, para não cometer um engano e retroceder, tanto no cenário político quanto no cenário econômico. Ele apresentou duas questões importantes frente aos descontentamentos com os rumos da econômia e com o governo. “O movimento sindical está com essa bola toda? Nós estamos fazendo a pressão necessária? O lado de lá faz pressão o tempo todo”.
Fialkow finalizou dizendo que entende o cenário atual, em que o conservadorismo avança no país, como um momento de lutar para perder menos e não como um momento para grandes conquistas. Nas manifestações dos presentes, ficou claro que com o movimento sindical dividido e encolhido, não será possível avançar e que há urgente necessidade de um movimento unificado com pautas conjuntas.
“Não podemos desprezar aliados e temos que trabalhar pela união e por uma frente ampla para poder enfrentar o retrocesso conservador. O movimento sindical tem papel e tem a responsabilidade histórica de pressionar o governo e o Congresso Nacional para outro lado, para o lado da produção e por avanços e conquistas, contra a lógica da financeirização. Temos grandes possibilidades de formar um grupo sólido e pressionar por um caminho melhor”, concluiu.